28.1.10

A Caixa



Era uma vez uma caixa. Não uma caixa qualquer; era uma caixa praticamente sem fundo, mas cheia de histórias para contar. Esse objeto ímpar veio passando de mão em mão, de forma que desaparecia e aparecia constantemente. Seus desaparecimentos não eram "aleatórios"; ela só desaparecia quando não havia mais solução ou quando não precisavam mais.

Guardar exatamente tudo fazia desta caixa algo espantoso e, ao mesmo tempo, perigoso. Recordo-me de quando esta caixa ficou em poder de uma menina que tinha vontades estranhas; logo pensou em livrar-se das suas vontades, trancando-as na caixa. Sem muita perspicácia, a menina guardou lá todas as suas vontades, sem fazer distinção entre as estranhas, as comuns ou as incríveis. Ela tentou tira-las de lá, mas suas vontades não permitiram - estas gostaram mais de ficar na caixa do que no interior da menina, achavam a caixa mais bonita. Terminou parada, literalmente. Sem vontade de falar, sem vontade de andar, sem vontade de ser.
Eu poderia contar mais inúmeras histórias desse objeto intrigante; são experiências memoráveis. Mas vou contar apenas a minha. Não que julgue mais interessante ou melhor que as outras; mas pelo simples fato de ser a única em que a caixa foi dispensada.

Naquela época eu tinha medo de sentir - de sentir mais que os outros, para ser mais exato. Tinha meus temores bobos, mas que faziam parte de mim. Um dia, encontrei a caixa - eu tenho sérias dúvidas sobre a real aparência daquele objeto, e tenho quase certeza que ele se adapta para se tornar belo aos olhos de seu novo dono. Era linda, atraente, como aquelas caixas que usam para colocar presentes caros. Excessivamente tímido, logo me veio a ideia de colocar na caixa meu Medo-de-falar. Meu arrependimento veio logo em seguida, já que agora, sem o Medo-de-falar, tudo que eu pensava me saía pela boca. Tudo mesmo. As pessoas começaram a ter antipatia, para não dizer raiva. De um jeito duro, aprendi que os temores também tem sua função. Pedi para que o Medo-de-falar voltasse, mas preferiu ficar lá dentro. Então, como contra-peso desenvolvi um senso crítico aguçado. Não tenho mais o Medo-de-falar, mas tenho o bom-senso de dizer apenas coisas aproveitáveis.

Minha estada com esta caixa não foi muito longa. Tive apenas duas experiências com ela. Na segunda, eu tive maturidade suficiente para não concluí-la. Era um sentimento que eu tinha, tenho. Amizade, para ser mais exato. Esse meu sentimento era um pouco intenso demais, e era acompanhado de um medo. Medo de estar gostando mais do que ser gostado. Aquilo tudo estava doendo, doendo muito; doendo no coração. Tive raiva de mim mesmo, e num pensamento avulso, cogitei a possibilidade de colocar aquela Amizade na caixa. Pensei que guardando aquele sentimento lá, ele amadureceria e no final, eu poderia pega-lo de volta, agora mais consciente. Estive bem perto de coloca-lo lá. Muito mesmo. Mas no momento que quase soltei a amizade na caixa, fui tomado por um outro sentimento. A incerteza. Eu não sabia se pegaria de novo aquela amizade de volta, então, agarrei-a com a toda a força que eu tinha. Não soltei.

Plantei aquela amizade no meu peito. A vi crescer, tornar-se algo maior e bonito. Hoje vejo os frutos, e tenho certeza que valera a pena, mesmo que regada com algumas lágrimas. Joguei a caixa fora, mas antes coloquei-lhe um cadeado e amarrei a chave. Não deu tempo para que desaparecesse no ar como sempre fazia. Talvez eu não tenha conseguido passar adiante a lição que tirei dessa história toda. Acho que a verdadeira magia dessa caixa é essa. Cada experiência é única para quem a vivencia, e agora estou mais feliz. Continuo com meus temores, meus exageros, minhas certezas, minhas alegrias duradouras e momentâneas e acho que eu não seria o mesmo sem estes.

*Achei essa redação num caderno velho e resolvi postar. Não tenho certeza, mas acho que é da minha 8ª série.

3 comentários:

  1. Q PERFEITOOOOOOOO MEOOO,
    pqp ameiiiiiiiiiii *>*
    otimo jeito de explika q devemos gostar duke somos e duke temos!

    adoreiiiiiiiii lipeeeeeeeee

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  2. que lindo lipe *-*
    adorei!

    te amo meu menino

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  3. oi fee, li umas paginas do seu blog e gostei muuuuito. voce tem um jeito de escrever muito original.
    e quanto a essa postagem, me lembra muito da história da caixinha de pandora, da mitologia grega.
    também (eu achei pelo menos, né) dá pra ler com uma moral, um outro significado. como uma metáfora.
    enfim, o blog é muito bom, e eu tô seguindo.
    beijo :*

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