25.12.09

Não entenda, sinta...



Taurinas geralmente não são muito intuitivas: preferem manter os pés no chão, a tentar adivinhar algo próximo que, quem sabe, aconteceria. Ela não queria sair de casa, mas mesmo assim resolveu dar o braço a torcer - saiu de casa, num ímpeto que nem mesmo ela entendeu. Seus trajes de verão foram mantidos, mesmo depois que ela sentiu um arrepio com o ar frio lá fora.
Ao sair pelo portão de casa, erguendo o foco do olhar, observou o céu. A noite estava linda, sem nuvens, com estrelas e a Lua reinando majestosa no céu. Sentir um frio na barriga fez que seus lábios sussurrassem uma frase, que soou como canto de pássaro: "Essa noite será especial".
Na cidadezinha esquecida no interior do estado em que vivia, agora estava mais movimentada do que de costume. Seus ex-moradores, que foram embora em busca de uma vida melhor, agora estavam de volta, a fim de rever os familiares e os antigos amigos. Ela estava encarando toda aquela situação com monotonia, já que tinha que dizer "Ois" e "Olás" para todos que passavam - todos os "Ois", geralmente, eram seguidos do pensamento "Quem é você?".
A pracinha da cidade, ponto de encontro dos adolescentes, estava singularmente bela, toda enfeitada no tema natalino: As árvores envoltas em mantos de luzes, enormes laços-de-fita vermelha pendurados no coreto. Havia pessoas. Muitas delas. E a maioria era desconhecida.
Ela andava apenas em linha reta, procurando alguém conhecido, ou um simples lugar para sentar.
E então, alguém entrou em seu campo de visão. Alguém que ela sequer se lembrava. Alguém que estava vindo em sua direção. Alguém com um sorriso lindo. Alguém que fez sua barriga gelar. Alguém que lhe disparou o coração. Alguém que lhe abraçou. "Mas como assim um abraço?"
Agora as pernas e as mãos estavam trêmulas. Seus cabelos castanhos estavam sendo apalpados pelas mãos dele. Ela estava paralisada. O abraço foi relativamente demorado. Mas, finalmente, os braços dele estavam se afrouxando. Enquanto os corpos se separavam, ela finalmente conseguiu observar detalhadamente o rosto dele.
Os olhos grandes e azuis - Azuis feito céu numa tarde quente de verão, Azuis feito água-marinha. O sorriso era amigável e sincero; doce, acima de tudo. Agora tudo lhe fez sentido. Ele estava de volta. Seu melhor amigo de infância, porém bem mais alto. As lembranças de sua infância lhe tomaram a mente - de um jeito tão vivo que eram quase palpáveis. Agora quem se atirava em cima dela era ela. Ela agora estava o abraçando, com toda a força que tinha. Estava abraçando com o coração. No fim desse abraço os olhares se encontraram, os sorrisos também.
As horas se passaram, mas mesmo assim os dois mantiveram a conversa. Eles estavam paralelos ao que acontecia no local. Ao tempo.
Ele só a via. E ela somente prestava atenção nele. Olhos nos olhos. Sorrisos. Aquele amor inconsciente infantil presente nos dois. A simplicidade do momento era o que o tornava perfeito. De repente, uma ligação no celular dele. As horas haviam se passado e os dois viraram a madrugada naquele banquinho de praça. Agora ele tinha que ir. Ir novamente, mas não por tanto tempo - eram apenas para algumas horas de sono.
"Então é isso..." - ele a disse, colocando-lhe os cabelos castanhos atrás do ombro. Ela lhe deu o sorriso mais doce que conseguiu e ele ficou vermelho. Novamente, ela atirou-se em cima dele, abraçando-lhe forte, como se o estivesse protegendo do mundo. Quando o abraço terminou, os olhares se cruzaram novamente, mas de forma diferente. Ela sentiu as famosas borboletas no estômago, ele ouviu os tão comentados sinos e aconteceu..
Foi espontâneo. O beijo mais inocente e mais doce do mundo. Com todo o romantismo dos contos-de-fadas. Simples. Único. Durou o tempo certo, na intensidade perfeita. Nem demais, nem de menos. E então, o beijo terminou.
"Então... A gente se vê amanhã?" - ele estava com o rosto iluminado, com os olhos vivos, as bochechas rosadas e um sorriso bobo.
"Claro" - foi a única coisa que saíram de seus lábios. Ela estava com as pernas trêmulas e feliz. A felicidade mais pura do mundo. Ele lhe deu um "selinho", no estilo beijinho-doce e foi-se.
Enquanto ela caminhava - praticamente dançava - em direção à sua casa um pensamento não lhe saia da cabeça. Algo como uma noite poderia ser mágica; como uma pessoa tem o poder de mudar, mesmo que por um único instante, a vida de alguém. E assim, transpirando felicidade, ela seguiu seu caminho, praticamente pisando e nuvens, e ansiosa para que saber que tipo e quantidade de magia o amanhã lhe reservaria.

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