9.11.09

Ele, Ela e a Bicicleta rosa(meio enferrujada)

Agora, o quarto das paredes verde-oliva não estava tão oco. O clima estava agradável, mas não o suficiente para ela. No CDPlayer, uma canção que causa nostalgia estava sendo reproduzida. A brisa entrava levemente pela janela, agitando as cortinas de cetim em cor-de-madre-pérola, balançando seus longos cabelos castanhos, que estavam perfeitamente espalhadas sobre a colcha da cama. As atitudes e palavras não ditas estavam lhe invadindo o pensamento, como um vendaval numa tempestade.
As lembranças, por mais que quisesse esquecer, lhe tocavam a consciência com uma tal leveza que chagava machucar. Eram palavras como: "Vou estar sempre com você" e "Eu gosto de você como você é, e por que isso tem que ser tão complicado?". E para completar, uma lágrima não planejada insistia em percorrer-lhe o contorno da face e tocar seus cabelos.
Ela estava arrasada. E sentia-se culpada, afinal a responsável era mesmo ela.

Não muito longe dali, a cena era parecida. Parecida, mas diferente.
Lá, as paredes não eram verde-oliva, mas brancas, e uma delas num tom sóbrio e sério de azul. Posters nas paredes, e uma bagunça típica. Roupas espalhadas pelo quarto, e ele em cima da cama. Os pensamentos também eram incoerentes com o desejado. A cena não lhe saia da cabeça, por mais que lutasse contra ela. No CDPlayer, um rock pesado, com uma letra que contava a história de um amor não correspondido. As frases se repetiam em sua cabeça: "É só isso que você vai me dizer?" ou "Como eu ia adivinhar? Minha bola de Cristal caiu no chão ontem". - Burro, burro! - resmungava consigo mesmo, fazendo mil caretas, tentando impedir que aquela lágrima lhe corresse pelas acnes que lhe restavam no rosto. A tarde relutava em não passar. Queria ficar para sempre. E nesse fim de tarde, ele adormeceu.

Por mais que detestasse, ela não parava de pensar na proposta recusada. A meia-noite já se fora fazia tempo. Já eram quase quatro da manhã. As dúvidas não paravam de aparecer. Medo. Incerteza. Vontade. Amor - Vontade e Amor principalmente.
Esses dois sentimentos a levaram a isso. Ela desceu as escadas na ponta-dos-pés, saiu pela porta dos fundos e subiu na velha - e meio enferrujada - bicicleta rosa. Atravessou alguns quarteirões, entrou em outro bairro e finalmente chegou à casa branca. A incerteza dessa vez se fora. Ela estava certa, o coração disparado, a respiração ofegante. Amor. Não pensou duas vezes. Pegou uma pedra e atirou-a em direção à janela aberta no segundo andar. Nenhuma reação. Ele não apareceu na janela como ela esperava.


Ela começou a ficar nervosa. "Ai meu Deus, como eu fui tão burra em vir aqui?" - pensava. Mas não desanimou. Pegou o celular, e discou mais uma vez aquele número que sempre fora o mais discado de toda sua agenda. Chamou uma, duas, três vezes, até que fora atendido.

A voz era cansada, mas era viva o suficiente para faze-la sorrir como criança. "Olhe pela janela" ela lhe disse.
- Você é louca! - ele acabara de ve-la lá em baixo, esperando por ele.
- E então, você não vai? - ela estava se sentindo completamente feliz e aliviada. A tensão tinha se tornado vento, e seguido seu caminho. Ele agora sorria, e mesmo com a distância, ela conseguia ver seus olhos brilhando.
- Eu te convidei para assistir o por-do-sol de hoje. E tem aquela confusão toda, a sua mãe.. - ele ainda se sentia chateado, mas mesmo assim, a alegria de ve-la era muito maior.
Ela sorriu e disse-lhe suavemente:
- Me desculpe por ser imatura e mimada. Eu devia ter pensado melhor e não ter ouvido minha mãe. Eu sou mesmo uma burra..
- É mesmo. A burrinha mais linda do mundo - ele completou - me espera. Vai levar só um minuto.

Um minuto depois, ele apareceu no portão, sorrindo. Ela largou a bicicleta ao chão, e foi correndo ao seu encontro. Ela o abraçou e se beijaram. O beijo mais lindo e apaixonado que ambos haviam presenciado. O beijo foi interrompido por ela, com um lindo e sussurrado "Eu te Amo.. muito! Agora vem.."
Ele subiu na bicicleta rosa, e ela sentou-se na garupa, e foram juntos até o mirante. Lá sentaram-se e abraçaram-se. Trocaram pedidos de desculpas, juras de amor. E, instantes antes do dia nascer, ela olhou fundou nos olhos dele:
"Você me convidou pra assistir o por do sol. Eu recusei, e como disse, sou uma burra. Agora, eu te trouxe até aqui, para assistirmos o nascer do Sol, e só o fato de ter você aqui comigo, faz esse momento inesquecível. E que esse nascer do Sol seja o primeiro de muitos que assistiremos juntos daqui pra frente. Não eu e você. Mas como nós."
Depois disso, ele deu um sorrisinho infantil, mas perfeito, que traduziu tudo o que sentiam naquele momento. O Sol foi a única testemunha e platéia daquele simples e imutável momento, que mudou o destino de duas pessoas. E assim eles permaneceram por um bom tempo, no seu recanto feliz, onde nada importava e nem ninguém os incomodaria. Estavam juntos. E isso bastava. Eles tinham um ao outro.

3 comentários:

  1. Lipe !
    Onde voc arrumo isso ?!
    Foi tão tocante . quer faser sua prima chorar ?
    SAUDADE DOII
    Te amoo ♥

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  2. nossa, muuito bem escrito e muito lindo o texto! :D
    adorei :*

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  3. Agradeço pela paciência de lerem meus textos..

    OBRIGADO!!

    =D

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