28.8.11

Roteiro


Depois das palavras ríspidas, dos vinte e poucos nós que você deu em sua garganta e daqueles abalos sísmicos internos seus que te escapam aos olhos, você pára. Depois daquela ausência longa de palavras, das corredeiras trovejosas que meu pranto é e da multidão de flechadas frias das minhas palavras, eu paro. O silêncio que os ditos bobos chamam de estranho se instala no campo de batalha depois que a última bala acerta o último sobrevivente; o que fica é minha respiração alterada, meus olhos suplicantes com as pupilas inacreditavelmente dilatas e toda minha fé no clichê do cinema americano me obrigando a acreditar que chegou minha parte favorita do filme: A hora em você deveria me envolver na força dos seus braços, acorrentando seus lábios aos meus no beijo ardente que era a recompensa por todo o roteiro doloroso dramatizado anteriormente. Mas o silêncio continua. O chão em que piso é mais mole e menos orgulhoso. Suas costas se viram, atingindo meu rosto com uma frase não-verbal dolorosa tal qual tapa de luva. O silêncio que os ditos bobos chamam de estranho se instala no campo de batalha depois que a última bala acerta o último sobrevivente: era eu. Meus olhos se fecham feito a tela, num fade lento ao preto que é destino de todo filme esquecido na prateleira do seu coração.

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