15.4.11

Desfazer Obsoleto


Eu sabia que sim, sabia que você viria. Não foi uma promessa sob jura em nome de todos os santos, ou um compromisso feito com o que há acima dos céus; pelo contrário, foi um sussurro segredado em sopro, que ninguém além de mim – nem as forças desconhecidas, nem a conspiração do universo – ouviria.

Meu apartamento pequeno fora devidamente preparado – minhas essências e incensos cuidadosamente espalhados influenciavam todo o andar.  Vesti meu melhor sorriso e espalhei por cada metro alcançável minhas expectativas. Entrei em algo confortável, algodão fino branco. Cabelo penteado, rosto barbeado, chakras alinhados. Eu estava pronto.

Aquela minha ansiedade infantil, coisa que eu imaginei que nunca mais apareceria por ninguém, fazia meu coração parecer um beija-flor – acelerado, fazendo batidas mudas, praticamente um zumbido. E assim, do meu peito à boca ele ia, a medida que cada minuto entre nós deixava de existir. 

Ah, os minutos... eles estavam indo-se e levando consigo minha ansiedade infantil, mas deixavam por substitutos uma boa quantia de decepção. O relógio ficou parado, os ponteiros não, nem a lua – ela também se fora, levando sua cortina azul marinho, manchada de estrelas. Deixou luz, que me esfregara a realidade na cara, cegando-me os olhos. Tanta claridade, tanta sensibilidade. Tanta que me transbordava aos olhos. O meu melhor sorriso se amarrotou, enquanto eu varria minhas expectativas que estavam ao chão porta a fora. 
O cabelo bagunçado, o rosto inchado – mas mesmo assim liso, onde o que me machucara tanto escorria livremente.

Me agarrei ao que eu tinha. Ao meu nada que agora era meu tudo e me fazia entender porque eu expulsara de mim, tempos atrás, aquele sentimento – o qual me inebriara por um momento, antes.  Meu tudo abandonado. Sozinho, por mais que doesse, a palavra ecoava feito o cheiro impregnado nas paredes. Eu jazia empoçado na cama, não tão molhado, aguardando o fim que a lua me propusera. Minha poça não duraria muito tempo. O sol faria seu papel sem pestanejar. Era hora de secar – e eu nunca desejara isso tanto quanto agora.

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