14.3.11

De olhos abertos


Enquanto toda a cidade dorme, permaneço em minha constante condição insone. Talvez João Pestana tenha se esquecido de visitar meu meio-quarto essa noite; ou simplesmente não me tenha mais afeição suficiente pra me dar o passaporte diário para o mundo dos sonhos. Mas sonhar não é complicado, nem é algo que só é possível faz enquanto se dorme – quem sabe se sonhar fosse mais difícil, não se decepcionar com as pessoas fosse mais fácil.

Sonhar é facil demais. É algo que acontece espontaneamente enquanto devoro um copo com suco de abacaxi com hortelã, naquele barzinho – que eu chamava de lanchonete – onde fazíamos o desjejum juntos quando éramos uma família; ou como naquelas duas ou três vezes que sentamos à beira da lagoa, olhando as estrelas, conversando sobre o futuro, astrologia e traduções de músicas que eu gostava – aquilo foi quase um monólogo, mas seu sorriso permanecia no seu rosto enquanto eu falava.

Acredito que eu não tenha mudado muito desde então. Nem eu, nem meus sonhos. Continuo me perdendo nos meus devaneios e gosto disso. Gosto da insônia também. Quem sabe até mais do que as visitas de João Pestana. Sonhar acordado me mostra como minha vida seria se eu a controlasse completamente. Seria bem boba, confesso. Cheia de clichês e pieguismos, beijos sorridentes e tardes mal aproveitadas, tudo isso com cheiro doce amadeirado. Não muito diferente daquilo tudo que eu sonhava anteriormente. Porém, meus sonhos daquela época não foram uma perda de tempo por não se realizarem, eles foram apenas o que nasceram para ser: sonhos.

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