11.11.10

Um delírio


Sua indelicadeza nata de ter o dom da impaciencia me deu uma pontinha de indignação por um instante. Um curto instante. Por qual motivo, causa ou todos aqueles sinônimos das palavras que eu usei agora, você correu pra dentro da sala de aula? Não poderia esperar minha conversa boba com meu amigo terminar?

Meu pessimismo típico de canceriano já estava tomando conta dos meus pensamentos enquanto eu andava em direção à escada. Mil questionamentos me acompanhavam veemente, estava cada vez mais confuso. Eu queria ter me despedido, e me perguntava se tinha algum motivo pra você fugir de mim. Talvez eu estivesse longe demais, ou falando demais, ou calado demais, ou... Já nem sabia o que pensar, até que meu raciocínio arou. Isso sempre me acontece quando voce está por perto. Mas não tinha te visto ainda, era sua voz. Não me virar pra te olhar era inevitável.

Essa sua impulsividade, isso que você tem de fazer as coisas por simples vontade pode ser algo um tanto inexplorado, que nem você sabe usar direito. Mas foi isso que me deixou leve pelo resto do dia, que me colocou as borboletas de volta ao estômago.

- Vim me despedir de você - E veio em minha direção. Aquele brilho em seus olhos, o sorriso malicioso e o andar decidido. Eu sabia o que ia acontecer, sabia do risco que corríamos mas não me importei por mais de um segundo.

- Você não tem juí---

Silêncio. Minha frase jamais será completa, fora interrompida e morta pelos seus lábios que trouxeram vigor aos meus. Um beijo-roubado, coisa de colegial. Meu coração já tamborilava forte, ameaçando sair do peito. Meu folêgo, minha insegurança e todo meu pessimismo - eu já nem sabia onde estavam mais, provavelmente sequer existiam. Só existia o nosso segundo. Que infelizmente já terminava.

Aquele sorriso ainda estava no seu rosto e tinha contaminado o meu. Maliciosidade. E eu já estava andando em nuvens enquanto você sorria me dando as costas e retornando a sala de aula. Ainda estava sem reação, com uma interrogação e meio perdido. Um segundo que me desnorteou e em que perdi algo. Algo que não vou recuperar. Um instante. Um estalo. Um roubo. Um beijo. Mil pulsações. Mil sensações. Um único toque. Dois bobos. Eu. Você.

4 comentários:

  1. Não sei bem porque, mas esse seu conto me fez pensar em amores perdidos. Coisa de colegial, como você mesmo disse. Daqueles amores avassaladores da época de colégio. Pra onde eles devem ir depois que cada um seguir seu rumo? Ainda sem saber porque, seu texto me fez pensar que esse mal falado foi um desses que sumiu depois que os tempos de escola se foram... Triste, mas ao mesmo tempo, libertador ver a vida acontecer. Sem esperar por nós...

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  2. Você está mesmo apaixonado então?! Não é intriga da oposição...
    Só pode estar mesmo pra deixar fluir um texto tão delicioso, isso é coisa de gente com o coração elevado.
    E olhe que você nem acentuou as palavras! De fato, está amando.
    Acho bom tratar de me dizer logo quem é, sabes que sou excelente jogadora de praga quando fico enjuriada.
    Humpf, meu menino lindo está de namorada.
    Estou ficando velha.
    #fato

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  3. bobos apaixonados, os mais felizes.

    Abraços.

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  4. Ele não tá apaixonado. Tá pegando geral, mas é discreto demais pra falar isso G.G KKKKKK. Pareiqiso.

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