Até certo tempo atrás meus domingos eram dedicados a mim,
egoísmo pleno. Era quando eu costumava procurar alguns contornos diferentes em
rostos conhecidos ou me desafiava a descobrir uma nota musical que ninguém
havia tocado. Era quando as portas do meu íntimo se abriam e eu deixava fugir
todas as minhas idéias e ideais de loucura. Eles corriam, rastejavam, rolavam,
quicavam, dançavam, voavam pra fora de mim. Era vida em movimento. Era lindo.
O que mais me intrigava eram os sons. Som de asas de
borboletas batendo; som de risos de crianças e latidos de cão; som de bicicleta
estalando e de folhas ao vento. Minha
trilha sonora preferida. No finzinho, haviam passos. Primeiro dois, depois
quatro, mas em descompasso.
Descompasso que me fez altruísta, que trocou o movimento
daquilo que antes era um ego só. Tornou-se coreografia a dois, pés com pés. Dois
pra lá, dois pra cá nós seguíamos, fazendo nossos sons. Agora era som de mãos
dadas, de dedos entre cabelos, de beijos sorrindo. Som de aconchego. De abraço
com gostinho de lar.
Havia um rumo pra onde correr, pra onde rolar, pra onde
voar. Continuava sendo pra fora de mim, mas com destino certo a se entrar.
Entrava naquele desalinho característico seu que me desalinhou os domingos, que
hoje são mais do que egoístas. Não são compartilhados. Meus domingos são seus.
Assim, roubados, sem pedir licença, por um sorriso inocente e olhos de
chocolate. Agora, privado mesmo, só meu coração. Que jaz em desalinho
constante, mas se ritma quando nosso descompasso se encontra. E então, eu
sorrio.
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