Nunca gostei de tomar café na vida. Não era por frescura nem por luxo – por simples desgosto mesmo. Nem café, nem chá. Por ironia do destino, desenvolvi o hábito de freqüentar uma cafeteria. Era minha punição, a tortura que me consolava. Sentava todas as manhãs na mesma mesa. Religiosamente. Sozinha. Não demorou muito, o garçom já sabia o que trazer: Um cappuccino pequeno, devidamente adoçado, com baunilha e creme.
Enrolando meu cabelo nos dedos, eu o bebia lentamente, com movimentos viciados. Boca, pires. Boca, pires. O olhar focado na vidraça gigante. Meu motivo de acordar cedo sem compromissos, o motivo das minhas lágrimas – ali, do outro lado da rua. Todos os dias abria a floricultura, varria a calçada sorrindo, e se sentava à porta da loja para sentir o sol da manhã – era um hábito seu, coisa de uma vida inteira; me lembro como ele ria das minhas reclamações rabugentas por abrir a cortina logo cedo .
Aquele sorriso de céu azul, de dia recém-nascido entrando pela janela... era só olhar pra ele, ouvir sua gargalhada - era quase como receber cócegas; meu mau-humor desaparecia. Tudo isso se tornaram lembranças. Ele ainda sorri, mas não para mim – e já não sinto cócegas, pelo contrário: me machuca. E quando dou por mim novamente, estou entregue às lágrimas.
Sou sua refém consciente. Meu cativeiro é essa cafeteria, minha prisão particular; onde eu venho por livre vontade para te ver. Ver o que eu deixei para trás. Ver o que deveria ser meu futuro. Pra te ver, das mais variadas formas. Com meu cappuccino como testemunha matinal, eu lhe entrego meu tempo, minhas lágrimas de um momento e os pensamentos de um dia inteiro. É aqui que eu venho tentar pegar o máximo de você pra mim, que hoje é quase nada.
Felipe; que delícia de conto!!! Adorei...
ResponderExcluirEu ia dizer "que delícia", mas a moça já escreveu no outro comentário.
ResponderExcluirMesmo assim ficou uma delícia. rs
Isso é estranho: eu sinto gostos enquanto eu leio!!!
Abraços
Seu romantismo encanta qualquer um nas palavras Felipe. Adoro ler seus textos.
ResponderExcluirque conto lindo! Adoro esse romantismo... Parabéns.
ResponderExcluirtulipa é a minha flor preferida (:
ResponderExcluirme lembrou de uma vez que eu pensei em prestar matemática só de raiva, por ser o que eu menos gosto. pois é, nao vou mais.
gostei aqui ó: "Com meu cappuccino como testemunha matinal, eu lhe entrego meu tempo, minhas lágrimas de um momento e os pensamentos de um dia inteiro"
beijos, fe.