19.11.10

Minha Dádiva



Ela foi em direção ao chão, suas frágeis pernas não aguentaram mais o peso que estava sobre ela. Seu impacto não causou barulho algum. Eu só ouvia seus soluços e as meias palavras exprimidas com dificuldade entre eles; tentativas de pedir desculpas. Não havia mais força suficiente para faze-la resistir a dor que sentia. Não queria mais fingir que não doía.

A raiva que me dominou não é explicável. Não tinham direito de machucá-la assim. Ela é uma humana também, imperfeita, suscetível a erros. Precisava manter a calma. Não tinha certeza do que fazer. Sou emocionalmente fraco para tentar não chorar ao vê-la ali, deitada no chão, encolhida, como se algo a comprimisse. Ela não precisava de mais lágrimas. Me deitei ao seu lado, entrelacei seus cabelos ruivos entre meus dedos - como fazia sempre. Suas mãos contornaram meus olhos e seguraram meu queixo.Talvez palavras não ajudassem, optei pelo silêncio, que ela mesmo quebrara.

— Me promete uma coisa... Promete que nunca irá me deixar? - Sua voz tremulava; seus olhos cor-de-chocolate estavam inundados, emanando carência e fragilidade. Aquela expressão de sua face foi cravada em minha mente. Nem que eu quisesse, conseguiria apaga-la.

— Eu nunca irei, serei o único a te manter segura.

— Mas... - meus dedos foram até seus lábios com cuidado.

— Mas nada. Eu não sou perfeito, tenho meus defeitos e você os conhece muito bem. É estranho, você faz de mim alguém melhor. Minha fraqueza, minha insegurança... quando estou ao seu lado tudo isso desaparece. Eu me sinto uma fortaleza, não imune, mas capaz de te defender. Serei seu guardião, afinal você me confiou a sua mais sublime posse, seu coração. Darei minha vida para protegê-la, para que desses olhinhos não se escorra lágrima alguma. Haverão momentos difíceis, mas estarei ao seu lado. Eu vou cuidar de você.

Ela manteve os olhos nos meus, e algumas vezes em minha boca, enquanto lhe dizia cada palavra. Era como se eu sentisse cada pulsar de seu coração, cada hormônio presente em cada célula de seu corpo reagindo ao som da minha voz. Eu já sabia que ela precisava de mim, mas não imaginava o quanto. "Ah, meu solzinho com estrelas..." - foi a última coisa que lhe disse e ela tentou esboçar um sorriso. Sem grande sucesso, depois atirou-se em mim e se entregou aos sentimentos mais uma vez.

Suas lágrimas molhavam minha camiseta, e as minhas já não eram mais domáveis. Beijei-lhe a testa e a envolvi com meus braços finos, o mais infinitamente possível. E ali permanecemos algum tempo, juntos. Me senti seu chão, seu porto-seguro, sua proteção, sua esperança, seu lar. Ela me permitindo ser. Era tudo o que eu mais queria. Ser para ela.

42ª Edição Musical, Projeto Bloínquês.
Ao som de: Pyramid - Charice Pempengco

3 comentários:

  1. As palavras pulsam.

    Abraço, irmão.

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  2. Tudo bem, já estou conformada. Minha imaginação vai longe! Mas a cena que vi lendo o texto agora foi tão linda. Adoro seus textos por isso, os detalhes me fazem imaginar e degustar o momento.

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