24.11.09

Inverno, lágrimas e uma macieira

"E por que tudo tem que ser tão complicado? Está tudo tão maravilhoso!" - ele sempre dizia isso a ela. Se ele soubesse como as coisas estavam ruins entre eles - e como ela detestava o jeito que ele dizia maravilhooso -, como ela estava triste, como ele a estava machucando fingindo que tudo estava bem.
Ela, às vezes, se martirizava, pensando que a culpa de tudo era dela, que ela tinha destruído o intocado conto-de-fadas que estavam vivendo. Ela se sentia perdida. E sempre que via o círculo prateado envolvendo o quarto dedo de sua mão direita, sentia-se sufocada, com um peso na alma.
Em seu rosto, os sorrisos ainda apareciam, fracos. Não por ele, mas por seus amigos que tentavam faze-la se sentir melhor. Correr para seu refúlgio foi uma das poucas coisas que lhe restaram. O refúlgio - a macieira. Sempre que ela chegava no local, se lembrava de como a plantara e ria.

(Quando ela tinha sete anos, como toda criança, fugira de casa. Na mochila estavam seu cobertor, um travesseiro e uma maçã; suas pequenas mãos carregavam junto ao colo seu ursinho de pelúcia. Andou relativamente pouco, mas o bastante para se sentir longe de casa e muito cansada. Entre choramingos e pontadas de medo ela passou o dia. E finalmente, no fim da tarde ela se sentiu com fome e devorou a maçã; com cuidado retirou as sementes e teve o cuidado de planta-las ali mesmo. Comida a maçã, a fome ainda não tinha sido saciada; por isso ela voltara pra casa)



Ela visitava sua macieira frequentemente. Simplesmente se sentia bem naquele local. Lá ela lia seus livros, viajava longe ouvindo seu mp4, e de vez enquando levava alguém para acompanhala naquela calmaria toda. E agora ela estava na macieira novamente. Ela sentou-se na grama verde que ficava em baixo dela, apoiou o corpo no tronco da macieira e não segurou mais.
Suas lágrimas vieram à tona, sem piedade nenhuma. Parecia que estavam lhe cortando a face enquanto escorriam. Seu choro durou um tempo longo demais para ela. A macieira se agitava com o vento frio, que também tocava-lhe os cabelos cor-de-trigo, fazendo-os dançar tristemente. Seus AllStar estavam desamarrados e sujos, em seu mp4 tocava uma música triste... seu mundo estava desmoronando. Pensamentos como "Continuar porque?" e "Eu não sei quanto tempo mais eu consigo" passavam por sua cabeça.

Em resposta aos pensamentos, as lembranças felizes lhe vieram à consciência. Cada risada, cada beijo, carinho ou afago que viveram durante o tempo em que estiveram juntos. Ela se lembrou de como os olhos castanhos dele brilhavam quando ela olhava dentro deles, do sorriso sincero, do formato das mãos dele. Se lembrou dos problemas que ele a ajudara a superar, e também de como ele a tinha como porto seguro, e sempre desabafava. Pouco a pouco, seus ânimos estavam voltando. Pensar por essa perspectiva estava renovando suas forças. Ela estava voltando a confiar. Confiar no amor principalmente.

Agora, as músicas tristes de seu mp4 já haviam sido reproduzidas e agora foram substituídas por músicas mais dançantes, seu AllStar - ainda sujo - teve os cadarços amarrados. Com um pouco de paciência, ela limpou os traços negros que as lágrimas - misturadas ao lápis creiom - traçaram em seu rosto. Seus olhos estava mais azuis do que o céu melancólico de inverno. Porém, por mais melancólico que o céu estivera, ela ainda conseguia mer alguns raios dourados do sol tocando as algumas nuvens. Isso lhe ajudara a crer que quase tudo poderia ter conserto. E o seu relacionamento não estava incluído nesse "quase".

De pé, ela foi andando em direção ao seu destino - não sem se desepedir da macieira -, agora acreditando que uma nova - e talvez última - chance possa fazer tudo ser diferente. E seria tudo diferente, se dependesse só dela. Ele teria sua chance, ela poderia ser feliz novamente. Sendo franca como ela foi com ela mesma: a chance que ela estava dando não era para Ele, e sim para o NÓS que eles tinha construído ao longo de dois anos juntos. Ela estava disposta a apostar todas as suas fichas nisso e estava certa que não se arrependeria.

Um comentário: