29.10.11

Felicidade Clandestina

Sabe aqueles dias? Não, não esses; estou falando dos bonitos. Aqueles em que você acorda com um sorriso no rosto, se sentindo mais criança; Em que você ri do seu cabelo bagunçado em frente ao espelho, ao invés de se irritar porque vai dar trabalho arrumar tudo; Quando o despertador realmente é uma canção e não só um barulho. Dias em que viver é convidativo, em que a professora vai para a sala feliz e sua letra fica mais bonita no caderno. Dias em que a chuva não te deixa melancólico, mas te relaxa; a fila se torna uma oportunidade a mais para pensar na vida e andar olhando para o céu nunca foi tão colorido. Dias em que sonhar faz sentido, que pensar em se casar não é algo tão assombroso e um milkshake é tão delicioso quanto manjar dos deuses. Dias em que não há motivo para reclamação. Dias como esse tem me acontecido ultimamente, e – confesso – queria eu saber a razão ou a receita para que esses dias amanheçam. Tenho gostado da minha cara de bobo desmotivada, do trevo de quatro folhas invisível nesse momento ímpar. Talvez tenha algo a ver com escorpião, mas duvido muito. Mais amigos, mais sorrisos... estranha alegria e boa sorte que me invadem tão indecentes e me deixam assim: leve, leve...

23.10.11

Clave de Garoa



Tão bela, tão franca
Me domina, me tranca
Me pinta de rosa,
Mas chama de branca
Na Cama
Camaleão de sentimentos me sinto ao seu lado
Perdido, mudando, não tenho estado
Físico
E fico explícito
Intrínseco
Mais molhado que chuva
Miúda entre nós
Na suas mãos grandes
Que me apertam
E sou então
De novo
Meu velho eu
Seu.

18.10.11

Lamentável Decrescencia

Resolvi voltar ao monumento que eu abandonara tempos atrás. Não era grande, não era suntuoso, mas eu me apaixonara pelos detalhes. Pelo barulho que o vento fazia ao atravessá-lo, era uma musiquinha.

Ficava perto de um bosquezinho, no alto de um morro daqueles bem apiques, que não te deixam descer de bicicleta quando criança; do lado havia uma árvore, que lá pelos meados de setembro desdobrava-se em flores roxas e despia-se de suas folhas.

Aquele monumento, então meu, já havia agüentado facões e ladinismos; tempestades de palavras e trovões de deboche, mas manteve-se imóvel. Me encantou a sua força. Assim mesmo, uma ação completa, finita. Mal desconfiava...

Não existe fato, as coisas mudam. Eu já não era o mesmo e divagava o motivo que me fazia regressar para algo agora sem sentido. Contraditório ia pra ver de novo, pra ressuscitar as noites claras e os finais de semana confinados com a diversão particular. E fui.

Cheguei e vi o que me calou. Minha jornada - mal eu sabia, pobre de mim - fora pra dizer adeus ao que restou do que um dia foi bonito. É algo estranho o que sinto, talvez decepção. Já superei a dor, nunca houve arrependimento. Ainda é estranho... como se houvesse esquecido a letra de sua canção favorita. Meio inacreditável, já que ela quase cantava-se sozinha... era fácil. Uma musiquinha. Não posso me lembrar, nem sentir a batida. Mas eu sei que você sentiu monumento, forte demais. Insuportável, desmoronou.

12.10.11

Coração divagar...

Volta e meia eu me encontro pensando em alguns amores que já passaram por mim. Aquela hora que você repensa todo um relacionamento passado e tenta encontrar onde foi que o erro explodiu tudo; parece besteira, mas isso é tão normal. E então, já era... aquela tsunami de pensamentos, lembranças, de toques – estes principalmente –invadem sua percepção temporal e quando se percebe, as horas já se foram. A última vez que isso me aconteceu foi em baixo das estrelas, numa noite cheia delas, sem economia. Tenho aquela coisa boba de imaginar como seria um possível reencontro com algum deles daqui a uns dez ou quinze anos. E é nessa hora que a minha barriga gela. Confesso que para um ou dois eu não teria força o suficiente: culpa dos feromonios ingratos da natureza. Talvez em algum reencontro eu me tomasse de arrependimento, mas na maioria deles eu só sorria – por falta de saber o que fazer. Noite dessas, numa conversa com um amigo, descartei boa parte das minhas definições de amor e cheguei à conclusão que o que eu achava que ele era nunca passou nem perto. Pronto, encontrei mais uma linha de divagações que vai me tomar mais um tempo grande. E daí? Eu não me importo mesmo. Acontece que, seja como forem minhas histórias de quase amor, eu tenho a minha preferida; e quando se trata de amor, de coração, pensar não é lá a melhor opção...



6.10.11

Degraus



A correria da rotina vai ficando intensa e é no sobe e desce das escadas que se vai percebendo quanto tempo se passou – e por mais bizarro que pareça uma pessoa de dezenove anos, assim, ficar divagando sobre o tempo, inevitavelmente me perco pelo seu decorrer. Nas palestras que assisti, alguns citaram Lispector, a incomparável dama que aos dezessete anos publicara seu primeiro romance; outros citaram curiosidades que alguns podem julgar bobas – como perceber que amora ao contrário é aroma, ou que luz azul ao contrário é simetricamente perfeita. Um a fonética e a fonologia explicam, o outro não. Seria hipocrisia da minha parte dizer que eu não queria ter feito essas descobertas que me encheram os olhos durante a fala do palestrante; tanto que eu nem me lembro o nome dos tais descobridores, de tão maravilhado estado em que entrei. As coisas vão acontecendo no seu próprio ritmo, talvez mais frenético do que eu esperasse porque é assim que tem que ser e vão mostrando que ser gente grande também pode ser muito mais divertido do que se imagina. Ainda não sou gente grande, mas pequeno eu sei que deixei de ser há algum tempinho – e foi de pirraça, obrigado mesmo. Não sei muita coisa, juro. Não sei pra onde estou indo, mas parado eu não vou ficar. Acho que essa é mais uma das coisas que você acha que aprende quando acha que está ficando mais velho...